O ano mais bipolar, esquizofrênico e intenso chega ao seu último mês. Alguém viu passar? Não fosse o fato do tempo correr, escorrer entre os nossos dedos - por aqui, hoje, ainda mais claramente visível, num garotinho que não pára de crescer, se desenvolver E perder roupa (para o desespero da mãe fashionista) - eu confessaria estar bem, bem feliz. Dezembro é aquela época que temos alvará para colocar luzinhas em tudo quanto é coisa (como se eu precisasse mesmo de alvará - ai, que subversiva, ela!) e celebrar datas comemorativas com músicas temáticas, cores específicas, cardápios festivos - basicamente, normalizando o que, na Tasca, é rotina.
O Natal, no entanto, tem um certo "plus a mais". É que entre os Gaivões (meu clã materno), de Portugal ao Brasil, o festerê não é pequeno. Além de nos juntarmos, como a maioria das famílias, temos uma série de ritos tradicionais que fazem dos dias 24 e 25 de dezembro, talvez, os meus preferidos do ano todo. Começamos com cantorias em frente ao presépio - deste lado do Atlântico, com músicas relembradas por um caderninho feito a muitas mãos, as quais reforçam a tradição familiar lusitana (como o Adeste e o Boa Noite), mas que também incorporam a brasilidade (como o Natal das Crianças - que seguiu sendo cantado por um bando de marmanjos, antes da nova geração despontar - diferença da terrinha: por aqui, fomos mais lentos, digamos assim). Das cantorias, seguem os abraços, que desde a partida de minha mãe, costumam ser bastante emocionados - toda vez, prometo não chorar e, toda vez, falho miseravelmente (mas, vamos ser justos e dividir a culpa - tô lá, firme, fazendo a minha parte, até que olhos marejados de outrem cruzam com os meus. Tem como?). Aí é hora do amigo-secreto, que se arrasta - somos muitos, afinal. Mas ninguém está lá pelo presente. A gente participa mesmo é pra ouvir o discurso do tio Julio que, entra ano, sai ano, rememora a história dos meus avós ("no tempo em que D. Maria Amélia e S. Manuel Gaivão ainda namoravam, quando andavam de trem, cada qual em seu vagão, e davam tchau, um ao outro, na curva…"). Nesse momento, a tia Nica já percebeu e se desesperou por ter esquecido de preparar o arroz que, bem, alguém come? (Desculpa, Ni, acho que você deve estar sozinha nessa). Antes disso tudo, porém, ao humor e sonolência das crianças, tem o papai-noel - vestido com uma roupa de cetim vermelha, que só não é mais antiga do que é quente; e que hoje dá colo para os oito primos remanescentes, além dos agregados, numa trolagem que sempre culmina com um selfie. Tempos modernos. De volta ao arroz: perto da meia noite, já meio altos (ok. Eu. Só que do passado. Já será o segundo natal sem fiasco por conta do vinho - ahhh, a plenitude da maternidade!), vamos para a mesa (Bê me azucrinando por ser a única prima na "mesa dos adultos") e nos deleitamos com tender, salpicão, mousse de chocolate, bolo de nozes, picado de abelhas… Bacalhau, é pro dia 25, no almoço. Receita clássica, frito e disposto em camadas, com batata e cebola também fritos, tudo gratinado com molho bechamel (preparado uma ou, no máximo, duas vezes ao ano, para não matar todo mundo de colesterol). Mas, nesse dia, já somos menos, já há saudade. E, já começo a contagem regressiva pelo ano seguinte.
Até 24, porém, tem chão, que percorremos saltitantes, entre as festas de fim de ano e as programações especiais da cidade. Sorte a nossa que Curitiba está mesmo decidida em se tornar a capital do Natal.
Só por isso, já seria lindo. Mas eu falei que 2022 é (foi?) intenso? Pois então: além do Natal, do Ano Novo, da correria para fechar todas as resoluções… É COPA, amigo! E embora muito (e justamente) problematizada, andar pela cidade e rever as nossas cores usadas por todos, em festejo a uma das paixões nacionais, é contagiante. Ou foi: tirei da gaveta a velha amarelinha, juntei bandeiras às bolas brilhantes e luzinhas e sinto-me pronta para o receber do papai-noel o hexa. Uma justa cereja no bolo, desse, que apesar dos pesares, entrou no hall de preferidos e inesquecíveis, dos 36 que já acumulo...
Dezembrou!
Na província e imediações
Agenda cultural de Curitiba e região
desde novembro: como já comentei, Curitiba está decidida a se tornar a capital do Natal e, quem ganha, são os fãs dessa época - ganha, inclusive, certa dose de FOMO ("fear of missing out" - ou "medo de ficar por fora”). Mas, se organizar direitinho, tem Natal todo dia, num verdadeiro calendário do advento - como o proposto pelo Curitibando em Família.
Ainda com dúvida do que fazer, dentre as muitas opções? No site preparado pela prefeitura, além do descritivo completo de cada uma das atrações, tem algumas sugestões de roteiro para noites especiais - independente do gosto ou modal do freguês.
Nossas escolhas para 2022: sim, quero tudo. Mas, diante da programação intensa que dezembro reserva, selecionei alguns imperdíveis, que se adaptam a nossa realidade, de pais novatos de bebê pequeno: drive thru dos parques Náutico e Barigui; rua iluminada da família Moletta; jardim dos sonhos do Botânico; Carrossel do Passeio Público… (ok, querer, querer, eu queria tudo… Mas bora chutar pra baixo e dobrar a meta!)
03 e 04: tudo bem, você não gosta de Natal (tudo bem pra quem? Tá, parei). O bar Taverna do Dragão recebe, mais uma vez, a Feira Medieval, uma atração divertida para os fãs desse período histórico tão peculiar. Produtos temáticos, comes e bebes típicos, combates característicos, música tradicional, entre outros, são as promessas para os dois dias de celebração. Ingressos a partir de R$ 30,00. Separa a espada.
nos jogos do Brasil: particularmente, sou do time que adora juntar a turma para assistir a Copa na casa de um, outro, ou mesmo (e principalmente) na Tasca. Mas, repetindo o sucessão de 2014, quando recebemos oficialmente o Fifa Fan Fest, o Resenha na Pedreira assume os mesmos moldes, com uma megaestrutura de telões de LED, bares, praça de alimentação e shows musicais. Ingressos a partir de R$ 25,00 (meia entrada).
09, 10 e 11: a Orquestra Sinfônica do Paraná encontra, outra vez, o Balé Teatro Guaíra para a apresentação do espetáculo O Lago dos Cisnes. Ingressos a partir de R$ 10,00 (meia entrada).
17 e 18: a Pedreira Paulo Leminski será palco (e cenário) do Curitiba Jazz Festival, que promete reunir, além dos amantes da música, apresentações musicais, atividades culturais, manifestações artísticas diversas, exposição de artes, feira de discos, fotografia e gastronomia. Jeito gostoso de se despedir da primavera.
Pra gastar a roda do carrinho
Programas para curtir com babies e crianças (inclusive as adultas)
também desde novembro: Curitiba ganha mais uma área verde especial. Localizado no bairro do Tatuquara, o parque Pinhal do Santana tem área de mata nativa tem 350 mil metros quadrados e fica em frente à aldeia indígena Kakané-porã. Natureza, araucárias, um belo lago, parquinho inclusivo com piso emborrachado, pista de caminhada, quadra poliesportiva e caixas do Jardins de Mel com abelhas nativas sem ferrão compõem o espaço, cujo destaque são as esculturas de pinha e os pinhões gigantes espalhados pelo gramado - homenagem à nossa árvore símbolo. [fonte: @curitibandoemfamilia.]
04: o Bosque Alemão sediará a tradicional festa germânica Laternenfest (Noite das Lanternas), que celebra o Dia de São Martinho. O evento será realizado a partir das 19h e é gratuito - porém, as lanternas devem ser confeccionadas anteriormente pelos participantes. O Muralzinho de Ideias deu a dica em 2021.
09: a Caravana Coca-Cola, com sua música tema, que lembrava a cidade toda que o ano estava findado, vai sempre me levar de volta para as trágicas noites de quinta, nas salas da Química, quando uma turma de desafortunados, dentre os quais me incluo, se juntavam para fazer a prova final de Física Experimental. Se o trauma não te bloquear (ainda estou em dúvida), o roteiro deste ano, por Curitiba e São José, está aqui.
16, 17 e 18: diante do sucessão de outubro, a Orquestra Sinfônica do Paraná e o Balé Teatro Guaíra apresentam, por mais uma curta temporada, o espetáculo Lendas Brasileiras. Ingressos a partir de R$ 10,00 (meia entrada). Imperdível!
Comes e bebes
Dicas gastronômicas - o que há de novo na região (ou para mim)
Santa Felicidade recebe um novo espaço gastronômico, o Restaurante Maria Eugênia, um cantinho com carinha de fazenda, para escapar da loucura diária. Já tá na lista.
Sou a louca do Panetone - que nem precisa ter milhões de cremes e recheios. Um bom e clássico de supermercado, bem fresquinho, já sacia o meu desejo. Mas, versões especiais e, principalmente, artesanais, são as que me ganham - velha regra de ouro: comprar de quem produz. Vou listar aqui os meus preferidos - lembrando que a lista também será dinâmica e periodicamente alimentada
junto comigo.Panenoni clássico, de frutas. Ultra fofinho, o destaque vai para o uso de cramberry e a cobertura açucarada, com amêndoas. [Noni Panificação e Viennoisserie.]
Panetode (chocotode?!) do viado. Mais tradicional (o queeee?!), mas bem honesto (além de gigante). Ainda não vi esse ano. [Pão que o Viado Amassou.]
Panetone Floresta Negra, do Maçã. Massa e gotas com chocolate, cobertura açucarada, cerejas orgânicas. Precisa mais? Vai lá: encabeça meu top list atual. [Maçã Padaria Artesanal.]
Do quarto pra sala, e vice-versa
Afinal ninguém é obrigado a sair de casa para curtir
durante a copa: calendário do advento não é pra ti? E da Copa? Pra não se perder na programação, sendo todos os jogos em horário comercial, um abençoado organizou toda a programação do evento esportivo, em formato para adição à agenda do Google. Já incorporei à minha.
streaming nosso de cada dia: duas séries bobinhas-porém-gostosas, desembarcam na streamosfera, mais especificamente no Netflix, para aquecer os corações já amolecidos pelo período. No dia 02, as amigas Tully e Kate voltam a se encontrar na segunda temporada de Firefly Lane. Já no dia 21, é tempo de fugir pra Paris com a Emily, que segue pela cidade das luzes em sua 3a temporada.
o mês todo - e todos os outros, conforme paixão
(vício)adquirida(o): a mousse de chocolate da minha avó (receita furada da Zel da tia Gi) tem a combinação perfeita para essa época - toque de Natal, com frescor tropical (geladinha), além de ser fácil de preparar. Divido aqui a receita, tendo sido a minha incumbência natalina entre as sobremesas, já há alguns anos.
Mousse de Chocolate da Zel
Ingredientes:
- 8 ovos - claras e gemas separadas
- 200 g de açúcar
- 200 g de manteiga
- 375 g de chocolate meio amargo
Preparo:
Em uma travessa de vidro, no microondas ou em banho-maria, derreta o chocolate com a manteiga. Separe as claras das gemas e às últimas, junte o açúcar. Bata com a batedeira, em velocidade alta, até ficar um creme esbranquiçado.Bata as claras em neve, em ponto firme. Aos poucos, acrescente o chocolate derretido na mistura de gemas e açúcar, batendo sempre para a temperatura não cozinhar os ovos - ideal: deixar esfriar um pouquinho antes de misturar. Quando bem homogeneizado, com auxílio de uma espátula de silicone, junte as claras em neve, em movimentos lentos e circulares, de cima para baixo, para incorporar ar à sobremesa. Repetir até homogênea. Gelar até firmar totalmente (cerca de 4h, a depender da geladeira), antes de servir.
Pulo do gato (ou dica de milhões): dá para fazer uma porção “individual”, com dois ovos, dividindo todos os ingredientes por quatro. (Desculpa, e de nada, por isso.)
Mesmo quem não curte nem copa, nem natal, vai se deleitar. (Agora se você não curte copa, natal E chocolate… aí, eu desisto. E nem acredito em você, desculpa lá. Escolhe tuas batalhas - mas não todas, vai?)
Com carinho e desejos carinhosos de boas (e muitas!) festas,
Mari P. Bragança
Obs.: a agenda é dinâmica - a medida que eu descobrir novidades, vou atualizando no link; e, se quiser contribuir, me escreve? Vou adorar receber e dividir tuas boas dicas!