São cinco da tarde. São oito da noite, são duas da manhã. É o horário que for. Eu não me esqueço de ti, minha amada companheira.
Mesmo depois de tantos anos, a vejo nos fundos de minha taça de vinho, vazia. No bolero que soa, melancólico, entre as conversas do restaurante. Nas rosas, oferecidas pela criança que, furtivamente, entrou entre as muitas pessoas que iam e vinham. Vejo-te, inclusive, no sorriso da criança, para a qual ofereço dinheiro a mais por toda a braçada de flores. As compro para ti. Mas, acabarei as distribuindo por aí, entre esta velha mesa e os teus braços. Guardo-te apenas o botão mais fechado, aquele mais apertadinho. Para que coloques na água, em teu vaso preferido, e contemples o desabrochar, preenchendo de perfume a sala.
Ou, talvez, não te leves, do buquê, nada. As verias morrer, aos poucos e, não suportaria, eu, te infligir tal dor desnecessária - com tristeza, recolherias a rosa murcha. Escorrerias a água amarelada, na pia. E, antes de descartar a flor, hesitarias.
Ah, tuas mãos macias! Tocariam as pétalas ressequidas, mas ainda delicadas e belas - tal qual os anos nos têm feito com a face. Quem sabe, num impulso de luxuria, as jogaria por sobre a água do teu banho de imersão - e à tua pele, se misturaria o odor suave e doce.
Por fim, acho que te levarei a braçada toda. Verdade seja dita, merecias um roseiral inteiro. Dois. Três. Para que não houvesse dia se quer sem lembrar-te de que, tal qual a flor mais pequenina, ainda desabrocha, cresce, perfuma e floresce o meu amor por ti.
Amei demais, Mari.
Sempre tocando minha alma!