Cores e águas de março
O dia amanheceu rosa.
Depois de um ano de seca intensa, há uma semana chove em Curitiba. Essa manhã, porém, ao menor sinal de céu azul, voltei para a última quarta de praia, que de cinza só tinha o apelido. Lembrei de um poema, no qual eu gostaria de morar, hoje.
“Pense em quantos anos foram necessários para chegarmos a este ano
quantas cidades para chegar a esta cidade
e quantas mães, todas mortas, até tua mãe
quantas línguas até que a língua fosse esta
e quantos verões até precisamente este verão
este em que nos encontramos neste sítio
exato
à beira de um mar rigorosamente igual
a única coisa que não muda porque muda sempre
quantas tarde e praias vazias foram necessárias para chegarmos ao vazio
desta praia nesta tarde
quantas palavras até esta palavra, esta”
Ana Martins Marques - O Livro das Semelhanças)