Eu não gosto de tomates
(peripécias de uma Mariana, enquanto pago minhas artes na IA do pitoco. Ou: só uma pitada da paciência e serenidade de minha mãe, pfv.)
(escrito em jul.21, para a oficina de Escrita Intensiva da Monica Berger; para ler ao som de Ella Fitzgerald & Louis Armstrong - Let's Call The Whole Thing Off)
Faminta, adentro a cozinha, para tentar descobrir o que seria o almoço. Sobre a pia, no escorredor de macarrão, três bolas vermelhas, perfeitamente lisas, cada qual com o tamanho de um punho. Repousam, enquanto minúsculas gotas de água escorrem por sua superfície. Curiosa, me aproximo, intencionando tocar, cheirar. Ajuizada, permaneço com as mãos atrás das costas, explorando melhor seus detalhes, com a proximidade.
- São tomates – desanima ela, que percebe o meu ar matreiro – tomates-maçã.
- Eu não gosto de tomates.
- Mas esses são diferentes.
Lembro-me de um dos meus filmes preferidos e, tal qual a princesa, sou seduzida pela graciosidade do fruto desconhecido. Sinto a água encher toda a minha boca.
Experimento. Sua suculência e sabor suave me surpreendem, transbordam pelos olhos brilhantes. Sirvo-me de mais, e mais um pouco. Zombeteira, minha mãe acompanha a descoberta silenciosa.
Daquele momento em diante, todos os tomates passaram a ser maçãs – mesmo quando italiano, cereja, debora. Só não voltaria a vê-los sobre a pia, cuidadosamente preparados antes de meu eventual “esse, eu não gosto”.