Me. To me.
Qual o valor da nossa estabilidade emocional? Quanto vale a nossa saúde mental? Qual o preço da nossa paz?
Embora nenhuma dessas questões seja realmente palpável, tenha um valor monetário específico, a conversão dela, me parece, fácil: horas de terapia, psicológica e holística; consultas frequentes ao psiquiatra; caixas e mais caixas, primeiro de Êxodus, depois de Zoloft. Não esqueçamos dos florais: walnut, rescue, um ou outro especificamente moldado. E, em uma conta grosseira, considerando os últimos 3 anos dedicados a cuidados, lá se vão quase R$30.000,00. Jogados no ralo, junto com um vômito nervoso, diante da última crise.
Não se trata de motivos: uma instabilidade no trabalho; um dia ruim, comigo; algum gatilho, saído sabe Deus de onde. Quando menos se espera, a muralha construída, a duras penas, se esvai. Desmorona. E, muito antes que eu perceba, ou pior, racionalmente notando cada movimento, incapaz de interrompê-los, estou dentro de uma espiral autodestrutiva. Um motivo, puxa o outro, que relembra o 3º e o 4º. Entre lágrimas e soluços de desespero, ao invés de alento, procuro e encontro, facilmente, a culpa: “não vale!”; “como entrei nessa, de novo?”; “eu sou toda falha, uma drama queen”; “que vergonha!”...
Enquanto escrevo isso, coisa ou outra pra resolver, me desconcentram do texto e enchem, novamente, os meus olhos. Travo o maxilar, coração descompassa. Respiro fundo. Tomo um gole de água, convencida a, hoje, não pular no poço. Desvio a atenção para o meu celular. Uma mensagem impressionada, de meu irmão, ilumina a tela: “ontem, fiquei sabendo de um conhecido que acabou tirando a própria vida por conta da depressão...”. Corro o cursor pelas respostas da família. Tenho vontade de abraça-lo. Esboço uma resposta. Apago.
Tirar a própria vida. A falta dela, boa e plena, tranquila e gostosa, que nos consome. Até consumirmos com ela.
Viajo até uma saída de campo, há cerca de 4 anos. “Quanto custa a vida?”, discutíamos. Ao que, um comenta (não lembro bem a fonte): 1 milhão. US$1.000.000,00.
Subitamente, o investimento em ajuda parece irrelevante. “Você só controla o que está em você. A sua validação tem que vir de dentro, de ti. Jamais do outro: pai, chefe, marido, amigo, filho”, diz Tati, em minha memória de nosso último encontro.
Pela janela do escritório, avisto o céu. Azul, poucas nuvens. No Spotify, uma versão feminina e melódica, gringa, de um clássico brazuca (“The boy from Ipanema”, de Nancy Wilson). Percorro as muitas fotos que ocupam estantes, paredes, mural. Noitada com as meninas. Meus irmãos. Show do Paul (McCarteney). Minha livraria preferida, numa viagem a Paris. Mais amigos. Um marido, levemente alcoolizado, dançando, em uma virada de ano. E, entre as fotos, um bilhete, um lembrete, de um meme, há pouco me enviado:
“Me to me: Bitch, you stress me out!”
Um milhão é pouco.
Mesmo sem saber como, junto os tijolos. Um a um. Reconstruo a proteção, ainda que falha, enquanto confirmo a consulta da semana:
“Nos vemos amanhã sim. Semana intensa. De fato, não sou um ‘forninho autolimpante’. Depois te conto melhor. Até!”.