Poder secreto
🎵 "got a feeling your electric touch could fill this ghost town up with life" 🎶
Curitiba, 12 de julho de 2023.
Existe um poder secreto, que só é acessado após noites muito específicas. Aquelas que chegam, despretenciosamente, numa terça-feira, e convidam o fígado, o pâncreas, a língua e alguns músculos da barriga a atuarem de forma intensiva, despertarem de maneira brusca, diante do estímulo não previsto e pouco tradicional.
Essas noites já se iniciam de forma turbulenta. Tumultuam a ordem natural dos fatos trabalho, casa, jantar, banho, cama, obrigando uma ginástica afetiva prévia, para ajuste conjugal e, especialmente, maternal. Escapam por uma fenda no tempo, na qual encaixa-se banho, roupa bonita e alguma maquiagem. Isso, quando mais uma vez, a falta dele, tempo, não força somente dose extra de batom vermelho e reforço do perfume e desodorante. Continuam, ao menos de minha parte, com a mensagem “atrasada, mas indo”, um Uber que demora dez horas em três minutos para chegar, e uma garrafa de vinho tinto errado, que parecia certo, e afinal o era, embaixo do braço.
São noites de abraços apertados, saudades apartadas, e uma conversa que corta pessoas, atravessa assuntos, entre pedaços de queijo duro e salgado, azeitonas recheadas, batatas crocantes, algum frio e brindes com taças demarcadas por lhamas de silicone. Se costuram em torno de uma mesa baixa e pequena, uma num banco, três no sofá, outra na almofada do chão, pernas cruzadas em nó.
Seguem com fatias de pizza, entre “agora é com vocês, não é a minha filha” e “preciso de musculação, to velha e sedentária”, harmonizadas com “minha senhora, ele já pede e chama pelo nome” e “não é que tivemos que assinar, por causa do plano?” “haha, aqui, é pra ser dependente do clube”.
O tempero é sutil: na Alexa, Taylor Swift, entre vibração de quem conseguiu, muxoxo de quem não e indignação de quem nem queria, ‘speak now’ em sua própria versão. Já, o quase desfecho, é marcante: não um, mas dois, ou três - fatias recém aquecidas de chocolate com morango em pedaços; perfeitos biscoitinhos, também de chocolate, tostados com marshmallow; e “nossa, que jovens, já passa da meia-noite”.
Se encerram ao portão, que não abre - embora tente-se, insistentemente, sob o frio não tão intenso de uma atípica noite de inverno curitibano. Ou, com certa dose de culpa, da mãe, meio alcolizada, ainda alegre, que corre no espaço entre o portão e a porta e sobe, na ponta dos pés descalços, as escadas, para encontrar o pai deitado, bebê adormecido nos braços, “ele já acalmou, pode ir deitar”.
O poder secreto? Nem eu sei, tão misterioso que o é. Ainda assim, é ele que, na manhã seguinte (hoje), emana por cada poro do meu corpo, fazendo com que eu sinta certa plenitude, ainda que ressaqueada - prometendo, outra vez, nunca mais beber e dormir tarde num dia de semana.
Ameei!!
Descreveu totalmente minha terça-feira com as amigas. poder secreto ❤️