Sobre a eternidade
(escrito em 04/11/2019 e encontrado, hoje... só imaginando o que eu não haveria BERRADO, se tivesse essa reflexão nessa manhã cinza de sábado, após um ano de pandemia e diante de um novo lockdown).
Nunca cogitei abreviar a minha vida. Mesmo nos dias mais difíceis, em que me ocorre demissão, divórcio, mudar de cidade, de país (e, às vezes, até de nome e de CPF), jamais consegui imaginar o desespero de alguém que coloca um ponto final por conta própria.
Do contrário, o que me assusta é a finitude dos meus dias.
Meu avô dizia: “viver para sempre deve ser uma canseira. Ainda assim, temo a morte como um ateu (católico fervoroso que era) – se tivesse mesmo fé, confiaria na continuidade”.
Do alto dos meus 30 e poucos anos, porém, só consigo pensar nas horas passando, diante da minha imortalidade juvenil: enquanto acumulo livros que não li, filmes que não vi, músicas que não escutei, lugares que não fui (e tantos outros que eu poderia e desejo voltar um milhão de vezes), ocasionalmente, me esqueço de tudo isso e entro em um modo de subvida.
Viver me parece urgente e assustador. O coração, que quer saborear o novo, teme o diferente. A zona de conforto, que incomoda, também acalma. E assim, eu me vejo num descompasso, entre o que se quer e o que se tem (e faz por onde). E baixinho, ao pé do ouvido, me lembra o tísico: “a vida que poderia ter sido...”
Nesta, a eternidade me parece um subterfúgio – me faltaria o tempo ou a coragem?
Ascendente em virgem. Lua em capricórnio. Mas um sol todinho (bem brilhante e amarelo) em leão. E horas. Horas de terapia. E lá está a eternidade, de novo.