Sobre pubs e amores
(Escrito em 2 de abril de 2018, celebrando os 10, que já são 13 - e contando).
França, janeiro de 2017.
Poderia ser só mais uma noite em um pub. Poderia.
Última noite de road trip, em pleno inverno intenso. Destino: Reims, saídos de Strasbourg. Distância: por algum motivo, julgamos (julguei?) que não mais que 200 km. O mesmo motivo que nos convenceu a descer um pouco mais e passar por Colmar. O que são 40 km a mais, afinal?
Vamos a antes.
Curitiba, algo como julho de 2016.
Ela queria a França, um sonho. Ele queria o México, a sensatez. Ela ganhou a queda de braço, pois é teimosa e insistente. Ele cedeu, afinal está sempre fazendo as vontades dela, verdade seja dita. Ele, doído, acabou não se envolvendo tanto com o roteiro. Ela, de exatas apenas no diploma, jamais deu atenção aos tais números.
Colmar, quase 17h, sol se pondo.
Carro parado em estacionamento, por hora. Ela pergunta: quanto tempo eu pego? Ele: vamos conferir, rapidinho, a distância que resta?
420 km. À noite. Nevando. Não, não dava para ficar pelo caminho.
Voltinha rápida, de reconhecimento, na cidadezinha. De volta ao carro, de volta a estrada. Neve cada vez mais intensa. Carro deslizava. 60 km/h era uma benção em forma de velocidade de pico. Ele pede: "olha o papel do hotel, se tem algo sobre horário de chegada”. Ela olha, se apavora com a mensagem que diz para avisar, após as 22h. Previsão do GPS: 23h. Mente: “não, tranquilo, vai tocando”. E começa uma oração silenciosa, para todas as divindades que consegue lembrar o nome: “que a cidade tenha estrutura; que o hotel esteja aberto; que haja um pub com comida local” (pq não, como sempre, eles não tinham almoçado - continuavam só com o café da manhã no sangue – e era a última noite).
Perto das 23h, chegada em Reims. Cidade estruturada. Primeiro agradecimento. GPS falha. Aparentemente esqueceram de baixar o mapa completo da cidade. Ele suspira. Ela mistura todos os mapas de papel disponíveis e tenta guia-los, pelas ruas escuras e molhadas, com certa dificuldade, até o hotel. Hotel encontrado. Aberto. Segundo momento de graça. Eles sobem os quatro andares de escada com as malas pesadas, mas com sorrisos no rosto por ter pouso garantido. Ela sonda a recepção, com um francês improvisado, sobre onde comer. Pela terceira vez: abençoado seja o pub, sua cozinha aberta e a comida local, para despedida. Era a última noite.
Ele pediu um steak tartare. Ela, magret de canard.
Ambos pediram cervejas, brindaram a vida, riram da última desventura e reviveram cada momento em mais uma história para contar. Adrenalina ainda estava alta.
Poderia ser só mais um conto das nossas trips. Poderia.
Mas é sobre amor. Sobre amizade. Sobre equilíbrio. Sobre completar-se. Sobre ele e ela. Há 10 anos.
(Que já são 13.)