Use máscara
(para ler ao som de “Chega de Saudade”, do João Gilberto – mais conhecida como PREFERIDA DA VIDA).
Nos idos (e tão saudosos) 2018, voltávamos de umas férias incríveis na Itália. O nosso país, porém, acabava de ter um prenúncio de dias difíceis e, diante do desafiador retorno à rotina, eu tentava entender e traduzir a movimentação das águas que aqui, ou lá, tinham inundado o peito e arrasado quase tudo, numa ressaca violenta (literal e figurada, sejamos francos).
Em meio às memórias doces e divertidas da viagem, em uma narrativa final, refletia sobre as descobertas que terras longínquas me trazem – que de nada, obrigatoriamente, tem relação com os lugares visitados ou com as sensações experimentadas (ou, talvez, sejam exatamente provocadas por tudo isso... Vai saber!?). Nela, descrevo uma Mariana recém descoberta, sem máscaras, aquela da qual me orgulho tanto e que ouso ser, de maneira especial, quando viajamos. Visitar essa Mariana, porém, apenas uma ou duas vezes por ano, em destinos distantes, nos quais não falam bem a minha língua, estava sendo pouco e ficando cansativo.
2020. O cenário já é bem conhecido e falar dele tornou-se um clichê irremediável. A pandemia veio e nos provou, literalmente, o incomodo das máscaras, com as quais fomos obrigados a conviver. Em busca de proteção individual e coletiva, fomos submetidos a um incômodo diário que, de fato, diminui a nossa vivência e interfere em nossa relação com o mundo e com os demais. Com ela, a comunicação é prejudicada, tal qual grande parte das experiências sensoriais – e de 5 (ou 6 ou mais) sentidos, fomos reduzidos a praticamente 2 (o que tem seu valor, mas, também, a sua dor).
Contra o COVID-19, já fui convencida, embora de cara amarrada e com certo contragosto (curitibano tem rinite de nascença), de colocar e usar direitinho a minha, para o básico essencial que se passa do portão pra fora da Tasca (leia-se ballet como básico essencial – pode perguntar pra minha terapeuta). Agora, se uma máscara já é ruim, duas, três, 25 sobrepostas, torna respirar uma ação quase impossível.
Desafios novos? Já não era sem tempo – setênio que chama, não é?
Prazer, eu me chamo Mariana (ou só Mari). O resto, estou tentando (re)descobrir – dessa vez, onde quer que eu esteja, 24/7.
(E sim, eu estou me cagando).