Vale o dramin.
Curitiba, 28 de abril de 2023.
Não posso dizer que a paixão por viajar surgiu antes mesmo que “eu me entendesse por gente”. Para ser sincera, quando pequena, a verdade é que eu morria de enjoo no carro/ônibus/avião e essa visão distorcia o restante — sem muito orgulho, mas cheia de compaixão, lembro de uma vez que, em Santo André, na casa de minha avó, a Régis parou. Precisávamos voltar e o jeito foi encarar um CGH-CWB. Com toda a plenitude de meus 8-10 anos, me tranquei num dos quarto e aos berros, jurei nunca entrar num avião. Entrei. Não só naquele dia.
Fui crescendo e a ideia não mudou muito. Adolescente tímida, eu adorava o mundinho do meu quarto. Tudo o que me afastava dele, era capaz de me deixar triste e emburrada (sim, isso inclui até um simples e gostoso fim de semana no litoral — ou, inclui principalmente, fãs, meus pais, de descer TODO fim de semana, para meu desespero juvenil).
O amor pelas palavras foi mais natural. Estimulado desde que juntei as primeiras sílabas, me levou a escrever diários desde os sete anos, registrando tudo (mesmo!) que acontecia nos meus dias. Como boa apaixonada, me tornou rata de biblioteca, devoradora de romances. Paixão que se expandiu a séries, filmes, boa música (um chá, um café, boa mesa)… Respirar cultura se tornou uma necessidade fisiológica.
E aí, aos 13 anos, meus pais, estimulados pelos meus avós, me presentearam com nada menos que um mês nas terras de Camões, para visitar a família “portuguesa com certeza”! Lá, turistando, descobri o que tanto leva as pessoas à estrada. Fui mordida forte.
Unir as paixões foi natural. A viajante, com o tempo, levou a amante de cultura para passear — por convite de Bridget (Jones) e para “deleite” do marido, parceria dos muitos quilômetros rodados, que já se viu diante do prédio do Friends, das escadas da casa da Carrie, em meio às estantes da Strand, na Katz Delicatessen… Para só citar alguns rolês de NYC, onde a fusão foi intensa (e impagável!).
“Sunday 31 August
9st 2, cigarettes 0, alcohol units 0. Instants 1 (v.sad)
10am Why am I so fat with no boyfriend all on own on Sunday morning. What is wrong with self? Am just no good. Am going to go down and get paper then have fag.
10.03am Is unbelievable. Like dream or sick newspaper April Fool. Is unbelievable. Diana Dies is just not kind of thing she would do.
10.10am Am going to put on telly and they will say it has been a mistake and she is back then we will see her coming out of the Harbour Club with all the photographers asking her what it was like
11.30am Cannot believe it. Is so scary when is obvious no one in authority knows what to do.
12.00am At least Tony Blair who seemed to say what everyone was thinking instead of repeating "grief and shock" over and over again in manner of parrot.
13.00am Just feel so guilty that she was our national treasure and people were niggardly about her and she did not like being here. Is like great big hand coming down from heaven saying "if you are going to squabble over her nobody is going to have her".
13.30pm. Keep having to look at newspaper headline again to make self believe it.
14.00 Really she was the patron saint of Singleton women because she started off like the archetypal fairytale doing what we all thought we were supposed to do i.e. marry a handsome Prince and she was honest enough to say that life is not like that. Also it made you feel that if someone so beautiful and gorgeous could be treated like shit by stupid men and feel unloved and lonely then it wasn't because you were rubbish if it happened to you. Also she kept re-inventing herself and sorting out her problems. She was always just trying so hard like modern women.
1pm Hmm. Wonder what people would say about me if I died?
1.01pm Nothing.
2.45 Have just had horrible realisation. Was watching television with the sound down and tabloid front page came up which looked as though it might have had actual pictures of aftermath of the crash in. Realised was horrible part of me which actually wanted to see the pictures. Clearly would not buy said newspaper even if could but.ugh ugh What does this mean about me? Oh God. Am terrible.
3pm. Just keep staring into space. Simply hadn't realised how much Diana was part of consciousness. Is like Jude or Shazzer being there and full of life and giggly jokes and lip gloss then suddenly being something so grown-up and horror-filled and alien as dead.
5.45 Just rang up Magda who has been to the garden centre and bought a tree and planted it for Princess Diana. Maybe could plant something in window box e.g. um basil? Could get from Cullens.
6pm Hmm. Basil does not seem right somehow.
7pm Not sure what think about everyone going to Buckingham Palace with floral tributes. Have people always done this? Is it something naff people do to try and get on the television like camping all night outside sales or good. real thing.Hm ... Feel want to go though.
7.15pm Think going with flowers might be a bit creepy ... but thing is really did like her. Was like having someone in heart of authority who was same as you. Also all huffer puffers criticised her re: landmines etc but if you ask me was bloody intelligent use of mad publicity. Better than doing nothing except huffing at home.
8.45pm What is point of living in capital city it cannot join in great expressions of feeling? Does not seem very English thing to do but maybe everything has changed with the changing weather and Europe and Tony Blair and it is all right to express yourself. Maybe she has changed English stuffiness.
9pm You see she was brilliant on the landmines programme. Just as good as Dimblebys Pilgers etc.
9.15 OK am definitely going to go to Kensington Palace ... Have not got any flowers, though. Will get some from petrol station.
9.30 Petrol station has sold out. Only things like chocolate orange and custard left. Nice but inappropriate.
9.35 Bet she would like them, though.
9.45 Have chosen copy of Vogue, Milk Tray, 1 Instants and packet of Silk Cut. Not perfect but everyone will have bought flowers and know she liked Vogue.
11pm V glad went. Felt a bit shy walking through in Kensington in case people knew where was going and that was on own, but then when think about it Princess Diana was often on own.
Inside park was v. dark and gentle with everyone just walking quietly in one direction. Was no histrionics like on News. The bottom of the wall was covered with flowers and candles in the darkness and people relighting the candles that had gone out and reading messages.
Hope that she knows now after all the times she worried about not being good enough, look what everybody felt about her. Really all this should say a message to women who are worried about how they look and being rubbish and expecting so much of themselves just not to worry so much. Felt a bit embarrassed about the Vogue and chocolate and Instants so hid under flowers and looked at the messages which made you think that you do not have to be a spokesman for anything to be able to express things. The best one was copied from the Bible, I think, and it said in wobbly old lady's writing.
‘When I was in trouble you cared about me, when I was in danger you tried to stop it, when I was sick you visited me, when people ran away you took my hand. Whatever you did for the poorest and smallest people I felt as if you did it for me’"
(Helen Fielding, Bridget Jones: The Edge of Reason - quote retirado daqui)
Visitar os locais que, antes, só encontrava em minha imaginação de leitora, nas telas da TV e do cinema, nas letras de uma música, nos temperos de um prato, se tornou obsessão. Ampliou a experiência do viajar — para além dos lugares em si. Hoje, nada me estimula mais a montar um roteiro. E abraçando a minha criança: se não for pra ser assim, creio que nem vale o dramin.
Costumo dizer que sou a responsável pelo departamento artístico, cultural e gastronômico da Tasca (a parte chata, fica para o Lú). Neste cargo autointitulado, minhas atribuições principais estão relacionadas à programação dos rolês, ao planejamento de cardápios gostosos, à determinação do calendário festivo, dentre outras funções. As atividades se multiplicam às vésperas de uma viagem, como nos encontramos agora. Em menos de 10 dias, seguimos para Portugal e Espanha.
Ciente de que as horas extras serão remuneradas com boas lembranças, saí catando as referências culturais mais legais dos lugares que visitaremos, para viajar um tico antes de partir. Compartilho aqui, caso (encontre uma alma maluca como eu) a Península Ibérica esteja nos teus planos.
As referências culturais que fazem de Madrid, Madrid
Madrid está longe de ser das cidades mais antigas da Espanha. Ainda assim, sobre si há uma carga cultural gigantesca. Além dos dois museus principais (Reina Sofia e Prado) figurarem como dos mais importantes acervos mundiais, há uma imensidão de ‘to do’. Poderia ficar aqui, rasgando os detalhes de uma lista que se encontra em qualquer guia de viagem — como venho fazendo. Trago então algumas referências que colocam o acento onde se deve, soltam a malemolência da língua latina:
Madrid de Valeria: versão madrilenha do clássico SATC, Valeria conta a história de uma escritora e suas três amigas, que vivem e esbanjam amor, sensualidade e diversão — além de uma amizade lindona — pela capital espanhola. Nesse roteiro, os bares e rooftops, em especial o do Hotel Riu, pela vista e cena icônica; e o El Viajero, pela vice, estão com coração na minha lista. Também, o café Frida, segunda casa da impostora.
Madrid pode ter sido destruída algumas vezes, em seu passado turbulento. Mas, segue daqui o título de restaurante mais antigo do mundo, de acordo com o Guinness book. Ta aí outra coisa que me deixa curiosa: o que faz um lugar permanecer, atravessar o tempo? Tô querendo descobrir…
Há como falar de Madrid sem mencionar o mais icônico diretor espanhol, Almodôvar? Estou com uma lista de filmes vistos e para ver, tal qual seus pontos chave. Deixo todo o meu carinho para Mães Paralelas (Café Moderno <3) e a sempre, SEMPRE incrível, Penélope Cruz.
E o que falar do livro que criou o livro? Dom Quixote de la Mancha é conhecido como um precursor da arte literária e, seu autor, Miguel de Cervantes, venerado pelo país todo como o visionário que, ainda bem, foi. Mas é em Madrid, no Palácio Real, que encontramos a primeira edição do livro; e ali pertinho, em Toledo, que tudo remete à aventura do cavaleiro e seu fiel escudeiro.
Para amar a versão ficcional de Barcelona
Já muito falei aqui sobre o amado Carlos Ruiz Záfon e sua cidade maldita. Sim, Barcelona é tudo sobre o Cemitério dos Livros Esquecidos. Mas, tem mais duas referências culturais que enchem o meu coração:
Para falar de mais um diretor polêmico, de fato o Woody Allen não é o melhor exemplo da espécie humana. Ainda assim, sou encantada pelo seu trabalho e Vicky Cristina Barcelona tá nos meus top lists. E aqui tem uma relação das principais locações do filme, não só na cidade que dá nome à trama, como também em Oviedo. Não preciso nem mencionar que todo o rolê artístico, que envolve Miró e Gaudí são as minhas prioridades máximas na cidade, fazendo a boa primeira visita. Certo?
Dentre os livros que li no ano passado e que ainda me marcam — daqueles que a gente fica indicando e presenteando as pessoas: Depois de tudo, queime, da Luciana Borges. Com uma vulnerabilidade invejável, a Lucy se propõe, nos tempos idos de tinder como inovação tecnológica, contar sobre os seus matchs, numa tentativa de avaliar a possibilidade de encontrar alguém legal pela ferramenta. Habitante da cidade, ela é palco de muitos de seus contos. Vale a leitura — mesmo que Barcelona jamais figure entre destinos da sua lista; ainda que comprometido e monogâmico — pelo simples voyeur.
E Portugal?
Pois bem, a querida terrinha, por sorte já tão percorrida, segue sem muitas referências. Mas essas aqui é imperdível:
Sintra é das minhas cidades preferidas desse país que guardo no peito também como pátria. Ainda assim, sempre foi destino de visita breve, para conhecer os castelos. Até um episódio do Lugar Incomum, da Didi Wagner, me levar para lá — mais especificamente para esse pub medieval, especializado em hidromel. Convite aceito para pernoitar na cidade e conhecê-la mais a fundo.
Tem mais dicas? Me conta?
Com carinho e quase de malas prontas,
Mari P. Bragança
Quando o e-mail dessa edição chegou, eu estava checando se tinha colocado tudo na mala e na mochila para ir pra rodoviária e me perguntando "será que eu devo tomar um dramin?". Passou nem 5 minutos, veio o e-mail: "vale o dramin" hahaha. O timing foi perfeito e eu pensei que só podia ser um sinal do universo, mas no fim acabei indo sem mesmo e deu tudo certo haha.
Adorei a edição e amaaaaaando as fotos de vocês no aeroporto! Ansiosa pelos textos que virão depois da viagem! Aproveitem! <3
Amei ♡ Por aqui todas as viagens são embaladas por dramim, ou mais recentemente pelo maravilhoso Vonau Flash. Vale mesmo o dramim conhecer esse mundão 😅😍