Curitiba, 27 de setembro de 2024.
(Escrito em 23.08.2024 - o que faz todo o sentido, se te chego por aqui).
Sigo num pulsão intenso de replanejar a minha vida, de modo a moldá-la aos meus reais desejos. Ando cansada de ver o tempo passar e as minhas frustrações se acumularem em montanhas bem diante dos meus olhos, dificultando até a visão do que me é bom, bonito e disponível, nesse exato momento. No entanto, “não há almoço grátis” e logo na primeira tentativa, percebo o desafio que determinadas decisões podem trazer.
A ideia não é nenhuma novidade e me sonda desde muito antes de eu ter me tornado mãe: 5 AM club. Ou: acordar cedo para que eu tenha, ali, uma hora para estar em silêncio e na minha própria companhia. Tempo para um café degustado com calma. Para sentar e escrever - páginas matinais; o meu livro. Para ler um pouco, no lusco-fusco do fim da madrugada. Indiferente: tempo, para que eu seja tão somente a Mariana, antes de: a mãe do Pedro, a esposa do Luciano, a pesquisadora do Lactec (a amiga, a filha, a dona de casa…)
Sinto o chamado ainda no começo da semana, provocada por uma crônica da Eliana Rigol:
“Podemos passar a vida inteira nessa de não sair em busca dos sonhos para não desapontar alguém que julgamos ficar desapontado se fizermos algo maluco no primeiro momento. Mas viver é assim. Um desassossego.
[…]
Ninguém além de mim mesma será capaz de realizar sonhos malucos e que meu próprio medo e julgamento, e não os de terceiros, é que limitam minha ação. O medo e o orgulho de falhar limitam as nossas escolhas.
[…]
A cada novo dia, uma nova chance de recomeçar.”
E continua…
“Se der certo, tu arcas com isso. Se der errado, tu também arca. Mas agora te pergunto: o que é dar errado? Qual é a decisão certa?
[…]
Até onde entendi, se não decidir me matar de alguma forma direta ou indireta, ainda tenho chances de rever, de voltar, de fazer o retorno. A questão é tudo que terás se tornado a partir da experiência estará lá, será parte desse novo “eu”. E isso é essencial para tua jornada, é aprendizado. Não existe vida sem crescimento. É ato compulsório.”
(Eliana Rigol, “Como viver a vida?” em Herstories - que, ao editar, me lembrou parte desse texto tão profundo da em )
Tento calar as vozes internas, presa nas velhas crenças limitantes, enfraquecida pelas falhas de outrora. O desejo, porém, me ronda. Uma foto no Instagram de um perfil qualquer; o prazer do silêncio da noite virando dia em que me pus em movimento por força de compromisso externo; a mensagem de uma amiga, parceira de tantas jornadas, partilhando o que havia decidido para si e a força-motriz; o texto de uma newsletter, pinçado aleatoriamente de uma caixa de e-mail abarrotada de coisas que eu ainda gostaria de ler.
Num ato menos impulsivo, mas também pouco planejado, ajusto o despertador para as 05h. Hesito. Decido. Todos os dias da semana.
Partilho, a respeito, em terapia. Sou relembrada de ter leveza:
“Vai ter dias que 1h, para você, significará dormir. Acolha. Está tudo bem.”
Organizo a rotina da noite, para permitir esse passo: louça do jantar na máquina, antes até deles chegarem. Pré-preparos do dia seguinte, engatilhados. Preferências do Pedro, para uma noite tranquila, separados.
Jantamos. Fora os poucos minutos de sofrimento por desejar milho, que não havia, tudo flui. Certa enrolação precede o banho, mas logo ele está aninhado em mim, ouvindo a segunda historinha, com olhos fechados. O cubro, apago a luz, vou para o meu banho. Antes de deitar, ainda faço coisa ou outra. Mas, logo adormeço.
00h24. Pedro berra, suplica pela mãe. Luciano o traz para a nossa cama. Ele quer mamar. Oferecemos. Está incomodado com o meu travesseiro. Troco. Gruda o corpinho no meu, como se, por aquela noite, pudéssemos pertencer novamente, ao mesmo espaço. Seus dedinhos enrolam uma mecha do meu cabelo. Estou totalmente desperta.
Tardo a pegar, novamente, no sono. E quando o faço, perco o espaço para esse serzinho de 90 cm, que parece carecer de uma cama king size apenas para si. Sem me dar conta, me recolho, quase que em posição fetal, e durmo as poucas horas que me sobram, em uma pequena beirada do colchão.
O celular toca. 05h.
Soneca. 05h08.
Soneca outra vez. 05h16.
Quero GRITAR. Não tanto quanto preciso dormir.
Desligo.
06h24 chama o alarme original.
Respiro fundo, enquanto contemplo aquele corpinho diminuto, em um sono (ENFIM!) impenetrável.
Desligo o despertador e me levanto.
Amanhã. As 05h.
Se te chego neste, já há quatro semanas (sim! Contando! Pequenas vitórias pessoais de alguém que sonha muito em ter consistência em um projeto de escrita), é porque o amanhã rolou. Talvez não as 05h. Acho mesmo que nunca às 05h. Mas, antes. Tempo para o meu tempo. E ainda que nem todos os dias (hoje mesmo, uma semana de mãe solo depois, despertei às 07h04 e tive uma manhã DAQUELAS - lembra: uma semana de mãe solo), com frequência o bastante para deixar o coração quentinho e celebrar a mim mesma, ainda que com certa dificuldade.
É um processo.
(Spoiler: todos são).
com carinho,
Mari P. Bragança
Ainda sobre…
Chegou na Tasca agora? Senta, pega um café e deixa eu te contar outras histórias…
eu gosto tanto de te ler ♥