Curitiba, 12 de setembro de 2024.
(Escrito, porém, em 06 de agosto do mesmo ano…)
Chego cedo no trabalho para uma reunião com a diretoria. Confiro os pontos a serem abordados, reviso item ou outro da apresentação. Olho para o relógio e ainda é cedo: tenho 40 minutos. Tomo um gole do café trazido de casa. Observo o movimento à minha volta, da mesa de coworking da recepção. Quase que de maneira involuntária, tateio a minha mochila e o encontro: o caderno. Capa azul-turquesa, frutas tropicais desenhadas; escolha do Luciano, em substituição do clássico preto, por conta de uma promoção - acabou agradando. Alongo brevemente os músculos das mãos, tentando estimular o córtex esquerdo póstero-inferior frontal (ou foi o que o google me disse).
Há tempos não me permito esse momento. Ou, para ser honesta, têm semanas que fujo das páginas em branco. Parte de mim sabe que a tormenta despertada quando a tinta preta encontrar o papel amarelado através da ponta fina de minha caneta preferida, será imparável. Incontrolável. Diziam Jorge Amado, ou Zélia Gattai, ou ambos, que temiam o prosseguir de uma determinada história que estavam escrevendo: os personagens, por ora, tornavam-se ingovernáveis (anarquistas, graças a Deus!) e passavam a usar as suas mãos apenas como um instrumento para fazerem o que quisessem. Sinto o mesmo - com o pesar de que, no meu contexto, a libertária é a minha mente.
Viajo, então, para o que fiz, no tempo que não encontrei para as palavras. Me dou conta de que li menos. Cheguei até, pela primeira vez em quatro anos, a pular uma leitura do clube - não por escolha (inclusive o volume está lá, no meu kindle, aguardado a sua vez, após ser tão aclamado pelo grupo). Larguei o ballet - aí, mais por renúncias, as quais eu não me via pronta para abraçar. Tampouco plantei. Matei manjericão, hortelã. Perdi a guarda do meu alecrim do trabalho, por negligência. Deixei secar orquídeas que há tanto sobreviviam nos vasos da parede do pub. Uma rosa do deserto (!). A palmeirinha anã, esquecida no andar de cima, do lado da cadeira herdada de minha avó. Deixei morrer, até, suculenta ou outra (eu sei. Eu sei.). Não vi amigas. Não vi filmes ou séries, com exceção dos velhos conhecidos, revisitados de tempos em tempos. Cozinhar foi o meu único refúgio, o que talvez justifique o desastroso resultado observado no consultório da nutricionista.
Em contraponto, estou com as finanças em ordem, pela primeira vez, sejamos justas, na vida (por ordem, leia-se: planilhadas, mapeadas. Porém, contudo, todavia, no entanto… vai acontecer!). Sei exatamente o número máximo de bananas que nós três consumimos em uma semana. 21. Tal qual, a quantidade de ovos. 32, considerando o bolo dos sábados. As leguminosas - 5 kg, preferencialmente divididas em seis tipos, os quais, ao assar, perderão 30% do seu peso em água - valor considerado para o planejamento do preparo das 23 marmitas da semana, que nos permitirão agilidade nos dias úteis, para que as tarefas domésticas não impeçam que eu me deite antes das 22h30, visando acordar às 06h24, ou antes.
Os medicamentos do Pedro, acumulados nos turbulentos 2 anos e 4 meses (dos quais, 1 ano e 10 meses de escola), foram organizados em uma caixa e separados por tipo (me ocorre, brevemente, a possível catalogação dos detalhes, considerando a data de validade, para eventuais urgências futuras). E nesta, constatei a nossa dificuldade em lidar com febres, havendo acumulado dois paracetamóis com sabor, três tipos diferentes de ibuprofeno (um deles, ainda em caixa fechada), além de mais três ou quatro antitérmicos em gotas (até um novalgina, meu trauma de infância, que jurei nunca apresentar ao meu filho. Promessa, cumprida, por ora. Segue lacrado).
Por falar em catalogação, iniciei também (incentivada pela partilha da
na versão da news para apoiadores), o registro de minha biblioteca pessoal. Regressivo, do que estou (pouco) lendo no momento, para os tantos acumulados nas estantes. Cheguei, até, a planilhar, com bases retroativas alimentadas pelas compras online em minha farmácia preferida, o meu consumo de dermocosméticos e suplementos alimentares, com o objetivo de entender quanto tempo, efetivamente, dura o vidro grande de meu hidratante corporal; ou a frequência com a qual eu preciso substituir o meu protetor solar com cor. Animada, acabei montando uma lista de desejos, não só no que tange beleza ou higiene pessoal; mas necessidades e vontades gerais para a casa, para o meu guarda-roupa; com valor, link, escala de prioridade e urgência. Insaciável, passei a consumir conteúdos sobre organização pessoal - onde mais? O que eu estava deixando escapar?Sou interrompida pelo “bom dia” de um colega que passa no corredor ao lado. Sacudo a cabeça, como que para acordar. Levanto os olhos do caderno, pela primeira vez. Sorrio e aceno, em resposta. Respiro fundo, tomo mais um gole de café. Me recosto na cadeira alta. Lembro de um vídeo, há poucos dias dividido por alguém no instagram, que não me ocorreu de salvar (digitalmente) na ocasião. Algo como:
se você vir alguém organizando tudo a sua volta, vá até lá e lhe dê um abraço.
(grifo meu, by heart)
Sacudo a cabeça, novamente. Olho o relógio, mais uma vez. Falta pouco mais de três minutos.
Jogo o caderno e a caneta na mochila. Fecho o computador. Termino o café e corro até as escadas.
Nunca fui a pessoa mais organizada. Ou, talvez, a minha régua fosse alta demais (oi, mãe!). O fato é que, de uma maneira quase que inexplicável, as urgências da vida se sobrepuseram, exigindo uma ação massiva - algo provocada por um podcast sobre finanças pessoais, em que, no episódio de abertura, fui defrontada com uma expressão que falava mais do que apenas sobre dinheiro: “parenting yourself”.
Escrevo isso. Tento continuar. Apago. Redigito algo e apago novamente. A verdade é que, mãe recente, sinto que estou iniciando nesta jornada. E, neste caso, não é sobre o Pedro que estou falando.
com carinho (e pulgas atrás das orelhas),
Mari P. Bragança
Ainda sobre…
Chegou na Tasca agora? Senta, pega um café e deixa eu te contar outras histórias…
Organizar e planilhar e os dermocosméticos?? Oi?? Isso tá me cheirando a desculpa para fugir de outras obrigações!! Kkkkk!!! Aqui em casa funciona assim: olhaaaaa, mais um tipo de hidratante sendo lançado ! Que embalagem linda! Vou comprar! Um dia eu uso!! (E sigo lutando para usar todo o estoque! O bom é que estou sempre hidratada!! Hahahahaha!). Te amo! Mais um texto lindo! Bjks
você sempre falando direto comigo nas suas palavras, amiga <3. (fiquei louca por essa planilha da Babi, achei mara! haha)